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  • 03 Agosto, 2022

Porque crianças menores de 2 anos não devem comer açúcar?

Os alimentos oferecidos nesse período são decisivos para a formação de hábitos futuros

Segundo o Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, uma publicação do Ministério da Saúde, uma alimentação adequada e saudável começa com o aleitamento materno até os 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite da mãe até os 6 meses, e continua com a oferta de alimentos in natura e minimamente processados, além do leite materno, a partir desse primeiro semestre.


Nos 2 primeiros anos de vida, frutas e bebidas não devem ser adoçadas com nenhum tipo de açúcar: branco, mascavo, cristal, demerara, açúcar de coco, xarope de milho, mel, melado ou rapadura. Também não devem ser oferecidas preparações que tenham o ingrediente, como bolos, biscoitos, doces e geleias.


O açúcar também está presente em grande parte dos alimentos ultraprocessados: achocolatados, bebidas açucaradas, cereais matinais, gelatina em pó com sabor, mingaus instantâneos preparados com farinhas de cereais (de arroz, milho e outros), iogurte com sabores e tipo petit suisse, guloseimas como balas, chicletes, pirulitos e chocolates, além de biscoitos e bolachas doces.


Esses alimentos citados acima geralmente têm uma identidade visual repleta de elementos que remetem ao bom crescimento e desenvolvimento na infância, o que pode induzir os pais e cuidadores a acharem que são alimentos saudáveis, mas não são.


Desfechos negativos para a saúde


O consumo de açúcar está relacionado ao desenvolvimento de diversas doenças na vida adulta, mas muitas vezes é um hábito que começa na infância. De acordo com Inês Rugani, professora associada do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (INU/UERJ), crianças ainda pequenas já estão apresentando doenças crônicas que eram típicas de adultos.


Além disso, alimentos ricos em açúcar, seja o de adição ou o que está presente nos ultraprocessados, apresentam uma composição nutricional desbalanceada e um maior teor energético, caracterizando um padrão alimentar de baixa qualidade nutricional que pode levar ao ganho de peso excessivo, ao surgimento de placa bacteriana e cárie nos dentes, além de outras doenças associadas. Por último, mas não menos importante: a presença dos sabores doces na infância contribui para a constituição do paladar que pede mais açúcar depois.


O desenvolvimento infantil é um processo muito sofisticado, explica a nutricionista Inês Rugani. Quando a criança nasce, ela já aprendeu algumas coisas ainda no útero. Com isso, os alimentos que a mãe consome possuem elementos que vão ajudando a constituir o desenvolvimento do paladar infantil, e esse aprendizado continua na amamentação. Através do leite materno, a criança também entra em contato com as referências que ajudam a moldar seus hábitos alimentares, além de receber nutrientes.


“A formação vai se dando aos poucos nesse processo. Esses dois primeiros anos são muito importantes, pois representam um período intenso de desenvolvimento de todo o sistema nervoso e cognitivo. É o período que a criança está moldando uma série de aspectos do seu desenvolvimento, e o paladar está incluso nisso”, afirma Inês.


Por esse motivo, ela reforça que os estímulos oferecidos nesse momento da vida são importantes para as escolhas que a pessoa vai ter no futuro. O Guia Alimentar lembra que, como a criança já tem preferência pelo sabor doce desde o nascimento, se ela for acostumada com preparações adoçadas poderá ter dificuldade em aceitar verduras, legumes e outros alimentos que despertam outros sabores e sensações no paladar, como o amargo, o azedo ou até mesmo o doce natural dos alimentos in natura.


“A gente tem uma preferência inata por sabor doce. O nosso corpo aprendeu a preferir esses alimentos em um período de escassez. Por esse motivo, existe a importância de proteger a criança pequena e a construção do seu paladar”, explica.

Segundo Inês, o açúcar, a gordura e o sal são ingredientes comumente presentes nos ultraprocessados, sendo itens responsáveis por torná-los alimentos com sabor mais intenso. O resultado disso é uma reação do sistema neurológico, que aciona o mecanismo de recompensa ligado ao prazer. No caso das crianças, esse estímulo é ainda mais danoso, uma vez que todo seu sistema está em formação, afirma a nutricionista.


Como controlar o consumo de açúcar sem conflitos

As melhores maneiras de driblar o consumo desse ingrediente é preparando as refeições. Primeiro porque, ao cozinhar os próprios alimentos, você tem o controle daquilo que é preparado e consumido. Segundo porque essa é uma possibilidade de envolver a criança nas preparações culinárias, apresentar diferentes cores, texturas, aromas e sabores, permitindo o despertar para uma alimentação adequada, saudável e saborosa.
Nesse processo, é importante que a família consiga manter uma organização para garantir o acesso aos alimentos in natura e minimamente processados e aos ingredientes culinários necessários para produzir as refeições. Envolver a criança na escolha da refeição da família, no planejamento da alimentação e no seu preparo é uma excelente estratégia para que ela passe a apreciar mais os alimentos. Assim, o cozinhar pode ser um grande aliado.